Docentes não põem em causa a praxe, mas contestam atitudes violentas e desviantes
Crescem a indignação e os protestos entre a comunidade académica, face a atitudes violentas e indignas, associadas a praxes estudantis. E, depois da Faculdade de Letras, é agora a vez dos docentes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) promoverem um abaixo-assinado que condena “práticas que põem em causa os direitos das pessoas”.
Ambos os documentos têm como destinatário final o reitor da Universidade de Coimbra, a quem os docentes querem fazê-los chegar por intermédio dos respetivos diretores das faculdades. João Gabriel Silva, recorde-se, tem mantido prudente silêncio, face ao avolumar de notícias sobre atitudes de descontrolo de alguns estudantes, no âmbito das praxes chamadas de “gozo e de mobilização” – de resto já suspensas, em Coimbra, por decisão do Conselho de Veteranos.
Em Letras, o abaixo-assinado foi posto a circular já no passado dia 29 de março, ou seja, ainda antes de ter sido tornada pública a mais recente polémica, como sublinha no seu Facebook a docente Catarina Martins. E, só no primeiro dia recolheu cerca de meia centena de assinaturas, acrescenta.
Na segunda-feira, a indignação geral avolumou-se com a difusão, nas redes sociais e até no DIÁRIO AS BEIRAS, da notícia de que, ao arrepio da suspensão decretada, havia estudantes a exercerem a chamada “praxe de gozo e de mobilização” em pleno perímetro universitário. Soube-se, entretanto, que se tratava de uma iniciativa de alunos da Universidade... do Porto, que vieram a Coimbra praxar caloiros.
Foi esta dinâmica de protesto que levou, ontem, o docente de Relações Internacionais José Manuel Pureza a fazer avançar uma iniciativa de idêntica natureza também na sua faculdade, a FEUC. “Estou convencido que vai ter uma adesão muito grande”, afirmou o antigo deputado do BE à Lusa, adiantando que vários colegas, entre eles os sociólogos Boaventura Sousa Santos e Elísio Estanque, já subscreveram o documento.
O texto do abaixo-assinado condena as práticas, “associadas à chamada praxe académica, que constituem atos de humilhação, de atemorização e de atentado à dignidade” dos alunos e alunas – sendo que muitos deles, devido ao receio de retaliações, não formalizam queixa, “apesar do repúdio e do temor que sentem em relação a estas práticas”.
À Lusa, José Manuel Pureza referiu que a Universidade de Coimbra, “no seu todo, precisa de refletir sobre o alcance e significado destas práticas”.
Nuno Crato condena humilhações mas respeita autonomia das universidades
O ministro da Educação disse anteontem à noite, que se deve respeitar a autonomia das universidades quando se trata de resolver assuntos relacionados com a praxe académica. Não obstante, Nuno Crato condenou todo o tipo de praxe violenta nas universidades portuguesas.
Falando em Aveiro, o governante disse que estas situações de praxe agressiva e humilhante têm sido cada vez mais comuns e que o ministério apoia qualquer decisão das universidades para que situações deste género não voltem a repetir-se. “Condenamos abertamente este tipo de práticas. Repete-se infelizmente um pouco por todo o país e é algo que tem de ser combatido”, afirmou.
Nuno Crato reagia, assim, ao Bloco de Esquerda que pediu ao Governo para atuar no sentido de colocar um “travão” às praxes humilhantes e violentas nas universidades.
in Diário As Beiras, 04/04/2012
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