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Todos os anos é a mesma coisa: travestidas de formas tradicionais de "integração", grassam nas diferentes instituções de ensino superior práticas humilhatórias que misturam violência ritualizada, gesticularia fascizante e cantos brejeiros. Nem sempre é possível ignorar ostensivamente esta escola paralela de obediência, sobretudo quando alguém tem a coragem de denunciar o que se vai passando. Sabemos também que não é fácil combater as praxes, mas há gestos simples que exigem ser tomados. Gestos que sinalizem uma recusa ética em pactuar com a coisa e que busquem caminhos para que nem tudo fique na mesma. Foi nesse sentido que duas professoras da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Maria João Simões e Catarina Martins, produziram um abaixo-assinado que reuniu o apoio inicial de mais um punhado de colegas (ver texto abaixo). O documento conta neste momento com cerca de 50 adesões e será entregue brevemente ao director da Faculdade. Eu, por mim, gostaria muito que da próxima vez que cruzasse o átrio da faculdade onde estudei com gosto - e que ainda frequento com regularidade - não tivesse de me confrontar com cenários que são a verdadeira antítese do que entendo ser a função nobre da Universidade.
Exmo. Senhor Diretor da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
No decurso deste ano letivo, vários/as docentes desta Faculdade observaram diversas práticas associadas à chamada “praxe académica” que se apresentaram como atos de humilhação, de atemorização e de atentado à dignidade dos/as estudantes. Apesar do repúdio e do temor que alguns/as estudantes sentem em relação a estas práticas, as queixas contra as mesmas não são formalizadas devido ao receio de retaliações.
Tendo em conta esta situação, os/as docentes que subscrevem este texto consideram importante uma intervenção dos órgãos responsáveis da Faculdade, no sentido de esclarecimento dos/as estudantes relativamente aos seus direitos, sugerindo atuações como:
- na receção aos/às novos/as alunos/as, prestar esclarecimentos sobre a praxe e sobre a possibilidade de recusa de participar nessas práticas;
- solicitar aos/às diretores/as de curso que, na receção dos/as respetivos/as alunos/as dos cursos que dirigem, forneçam os mesmos esclarecimentos;
- elaboração de materiais de informação sobre o assunto em causa;
- articulação com o Núcleo de Estudantes e outras estruturas associativas estudantis no sentido da divulgação destes materiais;
- colaboração na criação de estruturas de apoio aos/às estudantes que não queiram participar na “praxe”.
Recordamos, a propósito do problema identificado e exposto, as palavras do ofício 00006005 de 29-9-2009, do ex-Ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, dirigidas ao Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, “solicitando a melhor colaboração dos responsáveis [das instituições universitárias] no sentido do combate a praxes que, embora afirmando uma intenção de integração dos novos alunos, mais não são que práticas de humilhação e de agressão física e psicológica”.
Por entenderem ser possível encontrar modos concretos de atuação relativamente aos problemas mencionados, subscrevem esta exposição os/as seguintes docentes:
Catarina Martins
Maria João Simões
Clara Keating
Rogério Madeira
Manuel Portela
Ana Paula Arnaut
J. L. Pires Laranjeira
Adriana Bebiano
Cristina Martins
Maria José Canelo
António Sousa Ribeiro
Graça Capinha
Ana Cristina Macário Lopes
Rui Bebiano
Nelson Fraga
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