Duarte Marques voltou à carga para apresentar uma daquelas exóticas moções sobre tudo e sobre nada
Lembram-se seguramente daquele extraordinário presidente da JSD que, no Parlamento, lançou há dois meses uma das muitas frases aterradoras que as direitas portuguesas nos obrigam a ouvir nos últimos tempos: "Persiste ainda [em Portugal] uma ditadura com a qual não contávamos: a ditadura dos direitos adquiridos."
Foi a 19 de janeiro: o Governo acabara de convencer a UGT a juntar-se aos patrões e a assinar o acordo que permitirá impor a nova legislação laboral, e Duarte Marques, o deputado em questão, julgando elogiá-lo, dizia que, "com este acordo, é possível acreditar num contrato geracional em que os mais velhos abdiquem de alguma coisa para que os mais jovens tenham coisa alguma". (É assim mesmo que aparece no Diário da Assembleia da República; ele nem deve ter percebido que queria dizer o contrário...) O diagnóstico que o chefe dos "jotinhas" do PSD (que governou este país 20 dos 38 anos de democracia em Portugal!) fazia era que os "governos de vários partidos" nos haviam forçado a "pedir empréstimos sucessivos para manter um estilo de vida acima das nossas possibilidades, ou seja, um estado de perfeita negação, como qualquer viciado". Num despudor e numa lata sem fim, vinda de quem vem ("Fale por si!", soltou-lhe Rita Rato, do PCP, na Assembleia), Marques saiu-se com outro lugar-comum arrepiante: o de que "vivemos numa sociedade formatada para quem trabalhava no Estado, para quem já tinha emprego e já estava bem, esquecendo os mais frágeis e, principalmente, os mais jovens"...
Lembro-me de ter ficado boquiaberto. E de como Ana Drago (BE) o mandou pura e simplesmente "ter vergonha na cara" depois de ter vindo "abrir uma guerra de gerações" e "enxovalhar gerações e gerações de trabalhadores que trabalharam para construir este país, alguns desde os oito, 11 ou 15 anos (...)." (Há no YouTube uma divertida versão Bandex - Um futuro piorhttp://youtu.be/FZj4xH2ZTFA) Duarte Marques nem merece que se lhe preste tanta atenção - não fosse, talvez, pelo facto de que não demora nada e estará num cargo governamental por vontade de Relvas e de Passos... Mas a verdade é que voltou à carga no último congresso do PSD para apresentar uma daquelas exóticas moções com que aquele partido nos habituou, sobre tudo e sobre nada. Neste caso, sobre nada.
Chama-se "Sustentabilidade das novas gerações" e, pasme-se!, é a cópia quase ipsis verbis da famosa intervenção na AR de janeiro passado (não se pode dizer que trabalhe muito...). Nela volta à carga com a "ditadura dos direitos adquiridos", mas junta-lhe ainda a "ditadura das mesmas classes sempre protegidas" (mas quais?, a dos que têm 50€/mês de rendimento mínimo?, ou a das pensões de sobrevivência de 200€?, ou será que se refere às dezenas/centenas de ex-deputados do PSD, o partido com a maior representação parlamentar média desde 1975, e das suas reformas principescas?), ou "a ditadura dos inquilinos que viviam à custa dos senhorios"...
O melhor, contudo, está na tirada de puro estilo fascista com que a moção despacha, no mesmo saco, "a ditadura das mesmas famílias no poder, das mesmas empresas a mandar, das mesmas classes privilegiadas, dos mesmos partidos [!!], dos mesmos patrões, dos mesmos sindicalistas, das mesmas corporações". Claro que não espero que Duarte Marques tenha suficiente cultura histórica para se lembrar de que Hitler gastou anos de campanhas eleitorais a querer ultrapassar pela esquerda os comunistas, a falar da necessária Revolução Nacional que teria de acabar com a ditadura plutocrática dos grandes patrões (que, entretanto, financiavam Hitler e que, com ele no poder, fariam fortunas) e dos sindicalistas (que, esses, acabariam nos campos de concentração).
Queixa-se Duarte Marques da "ditadura que asfixia a verdadeira meritocracia, da qual o nosso futuro tanto depende", de um "mercado laboral fechado em que os jovens estavam proibidos de entrar" - mas para ele parece que não se fechou. Ora vejam bem o seu currículo. Em 2002, aos 21 anos, foi diretamente da Associação de Estudantes da sua faculdade para assessor de Nuno Morais Sarmento, o Miguel Relvas de serviço dos governos de Durão e Santana. Em certo momento, enquanto estudava Relações Internacionais, foi coordenar o Programa de Voluntariado Jovem nas Florestas, organizado pelo Instituto Português da Juventude. Tudo a ver... Depois, aos 28 anos, foi assessor de imprensa e chefe do Gabinete do PSD no Parlamento Europeu, produto seguramente da mais pura das meritocracias. Foi de Bruxelas que este inconformado se lançou na presidência dos "jotinhas" do PSD, em 2010. Meses depois, transferiu-se de armas e bagagens para a Assembleia da República, de cuja tribuna nos presenteia com disparates cósmicos desta laia.
A citada moção da JSD abre com uma citação de Eugénio de Andrade: "A juventude não precisa de piedade, mas de verdade."Pobre Eugénio, não merecia...
Manuel Loff [historiador da FLUP], Público
entendo perfeitamente as preocupações deste PARASITA a que chamam duarte qualquer coisa, é de louvar as suas preocupações principalmente para pessoas como EU, trabalho desde os 14 anos, tenho 50 e 36 de contribuições para alimentar esta CANALHA que só vegeta e nada produz,é óbvio que ele veja com preocupação que EU e Outros nestas circunstancias não abdicamos ou de indemnizações por exploração de trabalho INFANTIL ou a devida reforma por contribuição e trabalho prestado. de facto quem NUNCA PRODUZIU NADA SABE QUE PODERÁ MORRER Á FOME. tem razão o duarte.
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