Marco Antonio Moreno*
15 de março de 2012
Um estudo realizado pela Universidade de Duisburg-Essen e citado pela Deutsche-Welle indica que os trabalhadores pobres da Alemanha aumentaram em 2,3 milhões de pessoas, chegando aos 8 milhões, em 2010, número equivalente a 23,1% da população trabalhadora do país. A informação também foi citada em Süddeutsche Zeitung e assinala que um em cada 4 trabalhadores recebe baixos salários, quer dizer, muito abaixo de 9,15 euros/hora.
Esta percentagem era ligeiramente maior antes do surto da crise (24,2%, em 2007), o que permitiu às autoridades alemãs relativizar a sua importância. Se bem que os sindicatos lutem pela introdução de um salário mínimo de 8,50 euros por hora, o estudo dá conta que 19,9% dos empregados se encontram actualmente abaixo desse limiar e 11,4% ganha menos de 6 euros/hora, quer dizer, mileurismo puro. Os menores de 25 anos de idade são os mais afetados pelos baixos salários. Estes dados estão a assombrar o mundo dado que o aumento da pobreza na primeira economia europeia não era esperado por ninguém.
O estudo da Universidad de Duisburg-Essen não diz em que sectores trabalham estes trabalhadores que recebem salários baixos, mas muitos deles concentram-se no comércio e nos serviços pessoais. O gráfico seguinte (em anexo) retirei-o da OCDE e também mostra a queda dos salários.
Variação Salários Alemanha 2000-2010
A informação assinala que, entre 1995 e 2010, o número de trabalhadores pobres cresceu em 2,3 milhões de pessoas. O aumento foi maior no oeste da Alemanha, onde o volume de trabalhadores de baixos salários aumentou 68%; na Alemanha do este os trabalhadores pobres aumentaram 3%, produzindo-se um nivelamento por baixo.
O estudo mostra que somente 18,4% dos trabalhadores pobres não têm qualificação. Em contraste, 71% tem uma qualificação profissional e 10% um diploma universitário. Além disso, 63,7% destes trabalhadores pobres são mulheres; 47,6% estão empregados a tempo completo, 24% trabalham a tempo parcial e 28,4% só têm um “mini-trabalho”, quer dizer, um trabalho a tempo parcial que não está sujeito às cotizações sociais que complementam o bem-estar, o que indica que são trabalhadores numa situação mais precária.
Estes “mini-jobs” foram desenhados para promover um retorno ao trabalho completo, mas passaram a ser a forma com que muitos empregadores acedem a trabalhadores mais baratos e sem ligações a um contrato. Daí que Angela Merkel tenha apresentado a ideia de um salário mínimo mais elevado e mais próximo dos 9 euros/hora. Os trabalhadores do resto da Europa também esperam um salário mínimo mais elevado, na Alemanha, para assim poderem melhorar a competitividade dos seus países. Mas a ideia chega num mau momento, dado que já se iniciou a contração, que fará descer as exportações alemãs, o que levará à redução do emprego. E com a redução do emprego tornar-se-á impossível pensar em aumentar os salários.
* Marco Antonio Moreno é professor de Economia.
Tradução: António José André
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