quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Donuts, começa o dia com um sorriso?

Esther Vivas *

“Começa o dia com um sorriso”, diziam-nos até há pouco tempo os anúncios dos Donuts. Mas nas fábricas da Panrico já não se trocam sorrisos. De há uns tempos para cá, a vida do pessoal converteu-se numa roleta russa. Agora nas mãos de uns, depois nas mãos de outros. A usura, que não conhece limites, foi a sentença de morte da empresa e dos direitos dos seus trabalhadores, como nos repetem, o “sacrifício necessário”.

O que era uma empresa familiar, líder na produção de pastelaria industrial, converteu-se num negócio em bancarrota. A Panrico foi fundada, em 1962, pelo empresário Andreu Costafreda e os Donuts transformaram-se muito rapidamente no seu produto-estrela, seguidos depois pelos tão relembrados Bollycaos.

Em finais dos anos 70, a empresa consolidava a sua expansão no Estado espanhol, em meados dos anos 80 abria fabrica, em Portugal, e nos anos 90, em Pequim. O seu crescimento parecia não ter limites. Com a morte do seu fundador, em 1998, escrevia-se nos jornais: “Panrico/Donuts converteu-se numa das empresas de alimentação mais importantes de Espanha com uma faturação na ordem de 70000 milhões de pesetas, 22 plantas produtivas e 7000 trabalhadores”. Que tempos aqueles!

As entidades financeiras não deixaram passar a oportunidade. E, em 2001, a Caixa e o Banco de Sabadell entraram e passaram a fazer parte dos accionistas, adquirindo 30 e 5% respectivamente. Os empréstimos para que a empresa pudesse continuar a crescer estavam, assim, garantidos. Em pouco tempo, a Panrico entrava no mercado dos produtos congelados, do pão e dos bolos. Cobria, deste modo, novos mercados.

Mas, em 2005, a empresa mudou totalmente de mãos. 100% das suas acções foram adquiridas pela empresa de capital risco Apax Partners, uma companhia dedicada à compra e venda de empresas em todo o mundo, lucrando com a revalorização dos seus accionistas. A Apax Partners pagou muito pela aquisição da Panrico: 900 milhões de euros. Muito acima dos 600-700 milhões em que estava valorizada. O objetivo: dividir a multinacional, vender os seus ativos, obter dinheiro rápido, recuperar o investimento e posicionar a empresa no alto da sua cota de mercado para a vender de novo e conseguir mais lucros. Voilà!

Em 2011, a empresa é trespassada novamente. Desta vez, foi para a Oaktree, um fundo de investimento especializado em “recuperar” empresas “em quebra”, para depois fazer negócio com as mesmas. No seu currículo, a Oaktree conta com 24% das acções da Campofrio e quer agora investir na Pescanova. A roleta continua a girar. E a história é demasiado conhecida. Mais dinheiro para uma minoria (o propietário), menos direitos para uma maioria (os trabalhadores).

Na Panrico o que importa são os direitos. Chantagem após chantagem, a situação é insustentável. A Oaktree impõe agora: 1914 despedimentos, quase metade do pessoal, e uma redução dos salários de entre 35 a 45%, associada aos anteriores cortes na linha de produção. A fábrica de Santa Perpétua de Mogoda está em pé de guerra e em greve por tempo indefinido desde domingo, apesar das ameaças da Oaktree em liquidar a fábrica se continuarem com o seu empenho.

Passamos, como alguns dizem, de Panrico a Panpobre.


Tradução: António José André

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