Alejandro Nadal*
Manipulações sobre as taxas de juro? È um tema aborrecido, mas o escândalo que envolve o banco inglês Barclays, pela manipulação de informação para fixar a taxa Libor, afeta a vida quotidiana de milhões de pessoas em todo o mundo. O episódio revela, uma vez mais, que os agentes do mundo financeiro aviam-se com uma grande colherada. A investigação das agências reguladoras tenta tapar com um dedo o deslumbrante esplendor das mentiras e canalhices dos banqueiros.
Vamos por partes. O setor financeiro e os seus comparsas no mundo académico tentaram fazer crer, desde há mais de cem anos, que a taxa de juro é uma variável que se determina no mercado de fundos emprestáveis. Quer dizer, difundiu-se a fábula de que, numa economía capitalista, a taxa de juro é o preço que põe em equilíbrio a oferta e a procura de fundos (feitas pelos aforradores e pelos investidores). De acordo com essa visão, os bancos só desempenham uma função intermediária que é remunerada (pelas diferenças entre as taxas ativas e passivas de juro). Um mecanismo de mercado impessoal, análogo ao do mercado de maçâs, realiza o equilíbrio entre a oferta e a procura, determinando a taxa de juro.
Já sabemos que os bancos não têm de esperar que venha um cidadão virtuoso e aforrador realizar um depósito para poder emprestar essa quantidade a outro cidadão, desta vez um empreendedor. Na realidade, ao investidor pode ser emprestado o que procura se o seu projeto for considerado rentável e, para isso, é-lhe aberta uma conta, tal como se tivesse realizado um depósito. Ou seja, os bancos não são simples intermediários: estão envolvidos numa operação de criação monetária.
Portanto, a taxa de juro não se determina no mítico mercado de fundos emprestáveis. É uma variável que se forma numa complexa prática social, na qual o sistema bancário tem a batuta. Por outras palavras, a taxa de juro é uma variável que não se determina por um mecanismo de mercado impessoal. Desta nova perspetiva depreendem-se enormes implicacões.
Como meros cidadãos estamos sempre expostos aos abusos dos grandes predadores. A melhor prova está no que se refere ao pagamento de juros aos bancos. Por isso o escândalo da taxa Libor é tão importante e requer que as suas implicações políticas sejam analisadas.
A taxa Libor (London Interbank Offer Rates) é um dado fundamental no mercado mundial de serviços financeiros. É a taxa de referência dos empréstimos interbancários, assim como de uma infinidade de contratos de derivados. A Libor integra-se da seguinte maneira. A Associação de Banqueiros Británicos (BBA, sigla em inglês) pede a um grupo de grandes bancos que indiquem as taxas de juros que poderiam praticar a empréstimos a outros bancos para diferentes categorias de contratos e prazos de vencimento.
O resultado é comunicado diariamente, às 11 da manhã, na praça de Londres. Não se trata, portanto, de taxas de juro que realmente se estão a realizar nas transações, mas das perceções dos bancos incluídos no panel da BBA sobre o custo dos empréstimos interbancários. A taxa Libor é atualmente o referente de operações que envolvem, não só grandes fundos de pensões, grupos corporativos ou dívida pública, mas também para muitas operações, como a sua hipoteca ou um pequeno empréstimo do seu banco local.
* Publicado em:
Tradução: António José André
Sem comentários:
Enviar um comentário