segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Jornalismo(s) e o poder da incorrecção subliminar na imprensa


(do facebook do Francisco Louçã)

O Expresso de hoje publica a seguinte manchete: “Deputado do BE João Semedo foi sócio do BPN numa clínica do Porto”. Depois, no interior, conta uma história totalmente diferente: Semedo criou em 1994, com outros médicos, uma clínica, que tinha como sócio minoritário uma companhia de seguros, Real, dirigida então por um autarca socialista. Essa companhia de seguros foi comprada pelo BPN muito mais tarde, em 1999, e poucos meses depois Semedo desligou-se da empresa, tendo passado a dirigir o hospital público do Porto dedicado às doenças infecto-contagiosas. Aqui têm a história como ela é.

 E alguns factos mais:

 FACTO 1: O governo divulgou um relatório sobre a reforma da saúde, que prevê o fecho de seis hospitais públicos, a transformação de todos os hospitais públicos em empresas e outras coisas parecidas. Esse relatório foi coordenado por José Mendes Ribeiro. Como eu lembrei aqui no FB, Ribeiro foi durante anos o gestor do grupo BPN na saúde e saiu com um passivo de 100 milhões de euros. João Semedo foi o maior crítico desta proposta do grupo governamental e tem toda a razão.

 FACTO 2: Ribeiro deu uma entrevista ao Expresso, que é hoje publicada com honras de duas páginas (ninguém lhe pergunta nada sobre a sua experiência como dirigente do BPN na saúde). Ao mesmo tempo, vá-se lá saber como, o Expresso começa a investigar a “acusação” contra Semedo. A vingança move o mundo.

 FACTO 3: João Semedo criou uma clínica com outros médicos (1994). Associou-se então a uma companhia de seguros, que nada tinha que ver com o BPN. Anos mais tarde, o BPN comprou essa companhia de seguros (1999), sem que naturalmente houvesse qualquer conhecimento prévio, interferência ou decisão nesse sentido por parte dos médicos que faziam parte da clínica. Semedo abandonou a empresa logo depois (2000).

 FACTO 4: Em 2000, ninguém conhecia qualquer irregularidade no BPN nem em qualquer das suas empresas. Isso só se soube muito mais tarde, em 2007.      

 FACTO 5: João Semedo foi um deputado exemplar em independência e rigor na Comissão de Inquérito sobre o BPN. Fez um serviço essencial à democracia, contra o que sabemos hoje ter sido um gang que prejudicou gravemente os contribuintes. Percebo quem se queira vingar dele. Eu defendo-o, porque é de rigor e honestidade como a do João Semedo que o país precisa.

 FACTO 6: Eu tive uma conta corrente no Banco Espírito Santo durante os anos 70, onde depositava o meu salário que devia então andar pelos 6 contos. Espero que o Expresso publique no próximo número a seguinte manchete: “Francisco Louçã apanhado em parceria de negócios com Ricardo Salgado desde os anos 70”.

Fabian Figueiredo

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