sexta-feira, 4 de maio de 2012

Grécia: “Uma experiência brutal"


Entrevista a Alexis Tsipras (SYRIZA) de Bostjan Videmsek (Periodismo Humano)

Alexis Tsipras, de 38 anos, é o líder de uma coligação de novos partidos gregos progressistas e de esquerda chamada SYRIZA. Antes das eleições para o Parlamento grego, que se realizarão no próximo dia 6 de maio, falou com Periodismo Humano sobre como as instituições financeiras internacionais e os burocratas de Bruxelas que ocuparam a Grécia, onde considera que se está a a levar a cabo uma experiência brutal da “nova economia”

Periodismo Humano (P.H.): A morte de um pensionista na praça Syntagma foi extremamente simbólica – para mim é como um Jan Palach grego (que pegou fogo para protestar contra a ocupação soviética da Checoslováquia). Está de acordo que o seu país se encontra sob ocupação das instituções financeiras globais?

Alexis Tsipras (AT). Este homem não foi o primeiro que esta crise levou a suicidar-se. Foi o primeiro a fazê-lo num lugar público e assinalou os responsáveis do seu desespero. A Grécia foi posta sobo controle absoluto da União Europeia e do FMI com a cumplicidade do “governo socialista” e depois com a cooperação dos dois partidos tradicionais no poder. Em dois anos, depois de se sucederem os fracassos absolutos dos programas de estabilização, levaram-nos ao ponto em que o nosso país está até à quebra absoluta, o que acontecerá depois de  ser completamente saqueado pelos seus líderes. Na prática, isto significa uma perda de vidas, de dignidade e de futuro.

P.H. A maioria dos meus contatos em enas opinam que a Grécia é um “bebé proveta” para a futura economia europeia, na qual as pessoas serão obrigadas a trabalhar por 300 euros ao mês e onde não haverá nenhum tipo de Estado do bem estar. Como lutar contra isto?

A. T. Estás certo. Com o pretexto da crise da dívida grega, está a ser levada a cabo uma experiência brutal. Estão a pôr à prova quanto pode viver uma sociedade sem salários, sem justiça social, sem bens públicos. Se a experiência tiver êxito, implementarão o mesmo projeto em toda a Europa. Mas já estão a ver que o povo grego não vai satisfazê-los por mais tempo. Os partidos que consentiram este projeto estão-se a afundar, a sociedade está inquieta e as eleições podem mudar a situação de forma radical. Ainda mais agora que a crise se transmitiu ao resto do sul da Europa, ameaçando a Europa no seu conjunto. A única esperança é a resistência da sociedade. Se imporão, ou os mercados e os beneficios, ou o povo.

P.H. Como vê o desenvolvimento dos acontecimentos na Grécia? Como é possível, como político, afrontar problemas tão grandes e tanta pressão da UE?

A. T. Tudo depende da postura que tome a maioria social. È realista pensar mudar a situação atual e movermo-nos para um projeto político e social diferente. Mas para isso é necessário um conflito com a atual balança de poder. Para atingi-lo requer-se uma Coligação unida de todas as forças que partilham os mesmos objetivos. Mas o que se requer ainda mais é o apoio ativo da sociedade e do povo, e supostamente uma aliança com aqueles que se encontrem numa situação muit parecida.

P.H. Muita gente diz que a Grécia se está a converter num protetorado alemão, numa colónia com uma independência muito limitada.

A. T. Sem dúvida. O plano é deixar a Grecia sem recursos produtivos, nem riqueza pública. O plano é que os “autótones” trabalhem por salários muito baixos e sem leis que os protejam, para que os investidores estrangeiros possam levar a cabo os seus negócios sem restrições ambientais, nem impostos. Não sei se é um plano alemão. Sem dúvida que é um plano do capital transnacional, que é visto com muitos bons olhos, inclusivamente pelos capitalistas nacionais. Mas fracassaram, inclusivamente antes de o pôr em prática. A crise de um país, que representa 2% do PIB da zona Euro, está a ameaçar toda a construção da UE. A avareza do capital ultrapassou qualquer limite. Tomou dimensões auto-destrutivas. As pessoas dão conta disto imediatamente. Os capitalistas serão os últimos a verem-no.

P.H: Vê uma possível solução em sair da UE e da zona Euro?

A. T. Sair do Euro não é a solução. Primeiro, porque isso beneficiaria aqueles que acumularam riqueza e portanto são financeiramente poderosos. Segundo, porque seria cobarde e estaríamos a converter povos que hoje são aliados em inimigos. Que haja gente que queira bombardear a zona euro é outro tema. Mas a nossa luta está dentro da Europa. Temos que fazer cair a balança do poder, acabar com a orientação neoliberal das divisas e abrir um novo caminho para uma Europa democrática e social.

P. H. Teme que eo auge dos neonazis (Alba de Oro) os faça entrar no parlamento?

A. T. A História ensinou-nos que os fascistas aparecem sempre como resultado da decadência do sistema político civil. Os partidos que gobernaram este país implementaram uma política criminosa com o tema da migração. Abandonaram o problema, pensando que sería mais eficaz aproveitarem-se políticamente da xenofobia do que levar a cabo uma política de imigração séria. Poertanto, estavam a trabalhar objetivamente a favor dos fascistas. Mas não tenhamos ilusões, votar nos fascistas, que trazem e utilizam navalhas, não é um voto contra o sistema. Não é um voto para uma vida melhor. É simplesmente primitivismo político.

P. H. Quais são os seus objetivos para as eleições?

A. T. Gostaríamos que as pessoas votassem contra estes dois partidos que governaram o país durante as últimas décadas e que agora apresentam um programa comum que tem a ver com a abolição do estado social, a quebra social absoluta e a transferência da riqueza pública do país para os interesses privados. O objetivo é que as pessoas não lhes dêem a oportunidade de formar governo unindo as suas forças e utilizando a escandalosa lei que dá 50 deputados a mais para o primeiro partido. Têm que ser derrubados. Nós queremos formar uma maioria com os partidos de esquerda, os Verdes, os poderes que se opõem à situação actual tal como está a ser implementada pelo Memorando e pela UE. Unindo estas forças queremos formar uma nova Coligação de poder que mude radicalmente a política que estamos a seguir até agora.


Tradução: António José André

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