quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sr. Silva

Quem já se esqueceu da célebre cena do teatro a que foi dado o nome de "O Senhor Silva"?
A história passa-se numa pequena ilha tendo como figuras de topo o senhor João e o dito senhor que dá nome a este teatro, o senhor Silva.
Referir-me à terra onde se passa esta cena, como sendo numa bonita e conhecida ilha badalada em todo o Mundo essencialmente pelos grandiosos finais de ano, pelo majestosos Carnavais e ainda pelas suas excelentes flores.
O actor principal o senhor João é um ilhéu dessa terra exímio na arte de representar e um assíduo participante no corso carnavalesco, no qual tem um óptimo desempenho. O senhor em causa é extremamente bairrista, dotado de uma boa lábia, por vezes, desavergonhado e com alguma com  graça.  
O tal  artista principal desta peça, quando em cena,  dirigiu-se ao senhor Silva, algo zangado num tom arrogante, diria mesmo um pouco agressivo e malcriado, como é seu apanágio. Discursava  então para os seus conterrâneos, referindo-se à postura daquele Senhor para com ele e para com a sua terra, reveladora duma grande falta de solidariedade.
No decurso desta cena, é notória a tristeza do Senhor Silva perante o infundado acuso de desprezo pela ilha do senhor João. Era assim que se chamava aquele artista, grade operário da representação.
De tal forma, o referido Senhor Silva,  se sentiu  tocado pelas blasfémias do outro,  também da sua família, que de mansinho, veio mais tarde um pouco mais tarde, dirigindo-se ao seu Povo  manifestar o seu mau estar. Referindo-se então ao mesmo assunto, ripostou devagarinho, ao discurso do senhor João, onde aquele declamador, segundo ele, o desprezava injustamente.
Quem se lembra bem desta peça, vai certamente encontrar algumas  semelhanças no actual "treiler" do filme que está a ser rodado na mesma ilha, com o mesmo elenco ao qual deverá ser dado o titulo de "O Rejeitado", "O fim da linha" ou ainda "A queda dum Anjo".
A história do filme em questão, resume-se ao seguinte.
Há um buraco nesta  ilha criado e escondido pelo seu Alcaide, noutra havia um pessegueiro plantado por um Vizir.
O buraco existente na primeira, é difícil de explicar ao Povo, mas  vai ter de ser tapado por este, com mais uma molhada de dificuldades para todo o reino.
Durante demasiado tempo, o tal artista ilhéu esfalfa-se em discursos contraditórios e  verborreicos  carregados de arrogância, blasfemando em todas as direcções tentando justificar o  incompreensível e injustificável buraco escondido durante muitos anos.
Devido á gravidade da situação têm sido variados os apelos, sem consequência feitos aos seus comparsas do outro espaço físico, no qual se encontra também, desta vez como o maior, o mesmo senhor Silva.
O senhor João tem pedido insistentemente à sua família, do outro lado, a cobertura de que necessita e que até agora lhe têm sido dada. Chegando mesmo a implorar ajuda para não o deixarem  abandonando.
Perante o silêncio dos seus parceiros, que ao mesmo tempo vão deixando sair pequenos e discretos laivos de hostilidade, também eles sob uma pressão oriunda de todos os lados Nacionais e Internacionais, não resta ao  senhor João  senão o armar-se em vitima par com os seus conterrâneos.
Talvez propositadamente, o Senhor Silva, não acuda ao senhor João. Tal como na outrora, virá mais tarde estrategicamente "com pezinhos de lã", depois de sacudir bem a água do seu capote,. como de costume, aludir suavemente ao tal preocupante buraco.
Parece que neste complicado enredo, seja qual for o desfecho final da história, o Senhor Silva mesmo que  silenciosamente vai deixar cair sozinho senhor João.
O dito buraco está a criar um mau estar bastante grande no seio de todos os artistas que ao longo de muito tempo, lhe têm valido, desculpando-o pelas suas trapaças a coberto do seu dito desempenho na ilha. A fim e ao cabo no final desta história, o senhor João vai ter que abandonar os palcos.
Com a força que caracteriza este grande actor, ele vai baralhando a sua gente, aprofundando a sua imagem de vitima, acusando tudo e todos como sendo eles os responsáveis deste seu final algo inesperado, uns porque, diz ele, não lhe dão cobertura outros por serem a causa do problema.
Com os seus dotes de artísticos, no final do "treiler", o senhor João,  ainda vai  sair de cena pela porta larga, talvez até carregado em ombros, embora a cantar a célebre cantiga estudantil cujo refrão é "…vou sair de mansinho…não bebo mais daquele vinho".
Moral da história, e ainda em época de vindimas, devemos todos fazer fé no ditado popular que diz "tão ladrão é aquele que vai à vinha como aquele que fica ao portal".
Mesmo no final acaba tudo numa grande confusão onde não se consegue discernir o essencial da história, voltando, mais uma vez e estrategicamente, os atores da sua linhagem, a  adiarem o final esperado e merecido.
Jorge Moreira, Texto Publicado no Diário de Coimbra

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