terça-feira, 26 de novembro de 2013

luta contra propina no €nsino $uperior, para alguma memória histórica


24 de Novembro de 1993. 

Há vinte anos, tinha eu 19, e passava os dias naquilo que julgava ser a defesa da mais importante trincheira do que na altura se chamava "Estado Providência" - entretanto crismado de "Social". A "guerra" era a das propinas, e não era exactamente popular. Eu, que sou péssimo para datas, e pior para efemérides, roubo à Mariana o mote, e confio na exactidão do facto. Parece então que foi há 20 anos que subimos as tão desejadas escadas de São Bento para experimentar a "contenção de louvar" da PSP - que recebia ordens do Dr. Dias Loureiro, ministro e eminência parda daquela encarnação do cavaquismo (porque houve outras). Não me lembro muito bem dos pormenores, mas sei que houve uma "varridela", que foi tudo de escantilhão escadaria abaixo, que houve cães, bastonadas, pobres transeuntes espancados. Não me lembro, como digo, se subi para o Rato ou desci para Santos, se me escondi nos Poiais ou virei para o Quelhas. A minha memória é tão má (ou boa) que posso assegurar que já me rebobinaram uma dúzia de vezes este filme e eu continuo amnésico. Não culpem o Dr. Loureiro e os seus "contidos" homens de azul. Eu não devo ter sido dos mais castigados pelo "pauzinho de amolgar ideologias" (Mafalda). As minhas nódoas negras, a existirem, estavam na alma.

É que não era exactamente popular ter-se 19 anos e andar na rua a defender o ensino superior universal e gratuito. Na altura, há 20 anos, essa ideia da "qualificação" não passava de um slogan ultra-minoritário (quase exclusivo das associações de estudantes). E nós seríamos, na melhor das hipóteses, os funcionários públicos e os reformados de hoje: privilegiados.

Para outros seríamos uns "radicais". Isso, diga-se em abono da verdade, é um insulto à radicalidade. Nós varávamos noites a negociar compromissos. Eu andei atrás de professores tão soissante huitards como David Justino e Fernando Gil. Na nossa febre propinária co-geríamos a faculdade: comissões pedagógicas, reformas legislativas. Até festas fazíamos e eu - mas aí assumo o estado de pré-locura- levei o Júlio Pinto e o Mário Lindolfo a uma Assembleia-Geral da Associação Académica de Lisboa para tentar convencer as associações de estudantes (entre as quais a de Teologia da Católica...) a comprar o jornal O Inimigo para, finalmente!, podermos conquistar as mentes e os corações do povoléu.

Acho que na votação final houve 2 votos a favor, duas abstenções e para aí uns 30 contra.
Mas era essa a acusação que nos faziam. Gentes egoístas, defendendo interesses corporativos, esbanjadores dos impostos dos pobres contribuintes. É tão circular, e pobre, o nosso debate público que parece um déjà vu. Há 20 anos nós dizíamos que esbanjar era comprar aviões F-16, em vez de submarinos; que investir na educação era mais importante do que atapetar a Pátria com alcatrão; que cada escudo pago pelos estudantes seria um euro retirado do orçamento da Educação no futuro. Nada a fazer. O País com mais analfabetos e menos diplomados da Europa achava-se um "país de doutores" - com eles aos quilos e a sobrar. Se não fossem os cassetetes do Dr. Loureiro, e a sua contida vontade de exagerar, nós seríamos vencidos pela indiferença, e pela ignorância, que é como se ganha e perde em Portugal.

Ha 20 anos, se a comunicação social, os políticos dos "arcos", os politólogos e sociólogos, e os votantes em geral tivessem parado um bocadinho para pensar no que dizíamos, hoje estaríamos numa situação diferente. O nosso debate teria evoluído. Sabem? Não é fácil dizer isto (ouvi dizer que é mais fácil, por incrível que pareça, dizer o contrário): Nós tínhamos razão. O País que imaginávamos era melhor do que o País que imaginavam aqueles que ganharam. 

Porque depois dos cassetetes do Dr. Loureiro veio o diálogo do Engº Guterres, e a "guerra" perdeu-se. Pagamos das propinas mais caras da Europa. Os cidadãos portugueses não deixaram de pagar dos impostos mais caros da Europa. E se há privilegiados nesta história, bem, não sei, mas ouvi dizer que o Dr. Loureiro fez uns negócios assim e assado.

E hoje, como outrora, a escolha é a mesma: onde está a melhor ideia de País? A diferença é que há 20 anos nós queríamos apenas salvar uma árvore. A floresta, entretanto, 20 anos depois...




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