segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Estamos a regredir ao 24 de Abril de 1974"

SENHOR DIRECTOR, Decididamente não entendo para onde nos leva esta Europa liderada por um português e orientada por um francês e uma alemã.
O capitalismo é o seu lema e o neoliberalismo o modelo a seguir.
Nós os portugueses somos bombardeados diariamente por medidas restritivas ditadas por uma troika obediente ao sector financeiro e dirigida pela mesma Europa que no nosso caso parece querer acabar com aquilo de bom que Abril nos deu.
A nossa coligação governamental, PSD/CDS, não fugiu aos ideais da sua família europeia que teima em liderar-nos de qualquer maneira e a qualquer preço, sempre com a desculpa, esfarrapada, do acordo feito e assinado com a tal troika, ao mesmo tempo que se contorce para que o sistema económico da Europa perdure a todo o custo.
O CDS vai na sombra sempre de perto, atrás daquele que lhe deu a oportunidade que sozinho nunca conseguiu em eleições. Assim, para obter protagonismo e poder de chefia, vai seguindo sob a batuta do seu maestro.
O PSD para ter a tão pretendida maioria teve que se aliar mais uma vez a alguém. Só desta forma, apesar da sua irrequietude e ansiedade, conseguiu a maioria parlamentar. Para pagar o favor político do seu parceiro de caminhada vai-o deixando navegar, mas sempre à vista.
O pobre Povo, esse vai cegamente caminhando atrás destes senhores políticos, que tudo fazem apenas em favor dos mais ricos.
Sobem-se os transportes, os serviços de saúde junto com os medicamentos, o gás, a luz, colocam-se portagens em estradas já pagas anteriormente, penalizando aqueles que ainda têm emprego, sobe-se o IVA, o que volta a encarecer tudo ainda mais, tudo isto em prol de um dito honrar de compromissos assumidos com a troika.
Nem sequer é explicado aos portugueses que alguns destes aumentos são ditados e impostos pelo tal trio europeu, mas os montantes destes aumentos são da exclusivamente da responsabilidade do governo.
Quando os montantes de dinheiro arrecadado com os aumentos ou pagamentos, como o das SCUTS, está criado um buraco que ciclicamente o governo vai tapar criando outro aumento ou criando outros pagamentos. De tal forma isto será sempre assim, só vai parar quando os portugueses chegarem à exaustão e ao mesmo tempo já não houver mais nada onde ir buscar dinheiro.
Creio que nesta altura de saturação, e que julgo próxima, vai acontecer a falência de um sistema apenas de euros, que tem a interferência directa do estrangeiro, com a anuência e frieza do nosso governo. A falência de que falo e que penso estar próxima vai acontecer devido às convulsões populares que terão lugar nos vários países atrofiados por políticas apenas economistas sem o real conceito de solidariedade, só assim a sociedade vai pôr fim a este modelo aos seus orientadores, líderes e governantes. Será a crise dos partidos à direita.
Quero ainda voltar a dizer, perante este estado de coisas, que estão perdidas algumas elementares conquistas de Abril, sempre a coberto de que é preciso modernizar a nossa Constituição, quando afinal o que era preciso era adaptar algumas das políticas seguidas ao texto Constitucional.
Aquilo que Abril nos trouxe de igualdade e fraternidade está totalmente esquecido. Não entendo, por tudo isto, qual o modernismo aqui operado. Será que sacrificando os mais carenciados e defendendo acerrimamente os ricos estamos a exercer uma moderna solidariedade? Será que quando estamos a limitar, por via do dinheiro, o acesso aos estudos e à Saúde estamos a exercer uma moderna igualdade?
Por este caminho estamos a regredir rapidamente ao 24 de Abril de  1974.

Testo publicado no Diário de Coimbra de 12 de Setembro de 2011, da autoria de Jorge Manuel Fonseca Moreira

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