quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pensamento

Ao pôr-me a pensar sobre este nosso Portugal verifico que este tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro.

Nós na nossa, na sua pacata ordem existencial, achamos tudo "normal" e encolhemos os ombros, somos demasiado comodistas, perante as adversidades temporais de que somos vitimas. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa muito badalada socialmente tivesse um fim, um ponto final, fosse assunto arrumado, não se fala mais nisso. Parece que vivemos num país, inconclusivo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, que usam os dinheiros e o prestigio públicos para se promoverem pessoalmente face a um Povo apático, benevolente e esquecido. Ao mesmo tempo criam fortunas escandalosas.

Desde os Templários e das obras de Santa Engrácia, que se sabe que nada ou muito poucas são as coisas que começam e acabam neste rectângulo à beira mar plantado. Nada é levado até às ultimas consequências, quase tudo é provisório ou temporário quando não é desenrascado.

A justiça portuguesa não é apenas cega e os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais, das televisões, dos blogs, dos computadores com a Internet, continuamos sem nada querer saber, esperando com toda a naturalidade um desfecho adequado para os problemas com que deparamos.

São exemplo disto, a queda do avião onde viajava Francisco Sá Carneiro e o eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime?

O desaparecimento de Madeleine McCann ou o caso Casa Pia: Mais recentemente a Face Oculta: O actual caso que envolvia o negócio da TVI: O mal desfechado caso de corrupção na C.M.L. São tudo casos que nunca terão fim, ou como este ultimo sem justo e merecido desfecho.

Do caso Portucale à Operação Furacão: Da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro: Do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna: Do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica: Da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas: de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais: Da Braga Parques ao Bibi e das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho.

Quem ainda se lembra do senhor Vale e Azevedo?

Quem se lembra dos doentes infectados com o vírus da sida, por acidente ou negligência de Leonor Beleza? Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? que sendo um dos raros condenados em Portugal, acabou a passear no Calçadão de Copacabana.

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro?

Quem se lembra da miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E a todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

Quem se lembra do processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu depois?

Quem se lembra das famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão as tais fotos? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

Quem se lembra dos crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz?

Quem se lembra daquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Está a exercer medicina?

Alguém acredita que algum destes casos com os seus possíveis e muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devida e justamente punidos? E dos poucos julgados qual foi a decisão? Foi justa, adequada e foi exemplo para o tipo de acto praticado contra a sociedade?

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços altamente polémicos e enigmáticos bem como peças dum quebra-cabeças mediático de inicial. Habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade e a acomodarmo-nos, talvez porque inconscientemente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal neste país onde as coisas importantes são "abafadas"e onde a verdade pode ser incómoda.

Os demais crimes de colarinho branco, aqui não descritos, mas praticados contra a nossa sociedade, mais directamente contra o tão pobre Povo, também apagados pela inoperância da nossa justiça que não é apenas cega, parece também surda, muda, coxa e marreca.

Em todos estes casos, e outros, menos falados e menos mediatizados, mas na mesma sombrios e enrodilhados, a verdade a que tivemos direito foi pouca ou nenhuma.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos, injustiças, protecções, corporações e familiares, reputações, dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Voltamos a ser comodistas, apáticos, brandos, pacatos a assobiar para o lado e a voltar as costas quando nos impõem o Código do Trabalho, cheio de injustiças; o congelamento salarial, este a coberto duma crise especulativa e economista; as privatizações, de tudo e mais alguma coisa, somos ainda brados e acomodados quando “nos dão” um subsidio como se duma esmola se tratasse, quando mexem significativamente nas nossas reforma, quando nos impõem o famigerado PEC etc.,etc..





Jorge M. F. Moreira

Sem comentários:

Enviar um comentário