Armando G. Tejeda *
“Às vezes não se
sabe porque se etsá nesses lugares, nem o porquê de tal fotografía, mas em
qualquer caso faz-se e, finalmente, acaba por ter um sentido”, explicou o
fotógrafo britânico Chris Killip na apresentação da sua primera grande
retrospetiva, em Espanha, “Trabajo/Work”, no Museu Centro de Arte Rainha Sofia.
A sua obra é um
compêndio singular do desespero que o capitalismo provocou na classe operária
britânica, tão reprimida como pauperizada no que se designou por processo da
desindustrizalização das zonas rurais do Reino Unido, às quais se lhes extirpou
a industria sem nada em troca, passando das fábricas têxteis ou dos estaleiros
para a desolação e o desespero. Chris Killip captou esse processo, pelo menos,
desde 1968 até 2004.
É a vida quotidiana
de populações na fronteira da pobreza e a opulência de uma potência económica e
militar como o Reino Unido. É o dia a dia de populaçôes que lutaram pelos seus
direitos nas ruas, com manifestações para manter os seus direitos laborais, que
foram sistemáticamente reprimidas pela policía ou que foram testemunhas
impotentes de como a inatividade e o passar do tempo foram acabando, pouco a
pouco, com edifícios, casas e o pulsar quotidiano das praças.
Killip, homem que
nasceu e cresceu num típico pub inglês, desde criança escutou os lamentos ou as
risadas que se escutam nestes centros de reunião do povo britânico, decidiu
deixar o glamour e a frivolidada da fotografia publicitária – na qual se
iniciou – e cavalgar numa espécie de fotojornalismo de fundo. Chegava às
povoações ou regiões com as suas câmaras e os seus rolos de fotografia para
conviver e ser testemunha, tal como os seus vizinhos, do passar do tempo nessas
povoações acossadas pelo desmantelamento da indústria mineira ou naval.
Por isso, no seu
trabalho, há sobretudo retratos e imagens de lugares, ruas, paisagens que já
não existem. O passar do tempo e a depredação do capitalismo ultraliberal, que
se aplicou neste país, durante as décadas 70 e 80, acabou por transformar para
sempre essa sociedade. Agora muitas dessas paisagens industriais, tais como os
velhos estaleiros encravados num cais, são ferros abandonados. Ou as colinas
dalgumas povoações mineiras estão convertidas em campos de golfe.
“Às vezes não se
sabe porque se está nesses lugares, mas acaba por surgir o motivo”, explicou
quanto às suas fotografias, das quais expõe uma seleção cuidada de 107 imagens
a preto e branco e dois documentários. Nas quais predomina o retrato, um fio
que atravessa e unifica toda a sua obra e que serve para mostrar idosos,
famílias, crianças e operários a trabalhar.
Killip foi
escolhido, em 1972, pela British Arts Council, juntamente com outros sete
fotógrafos, para retratar as cidades de Huddersfiel e Newcastle, iniciando aí a
sua vocação para mostrar a Inglaterra industrial com imagens de pequenas
povoações pesqueiros e a convivência natural entre as casas e os estaleiros. Ou
as manifestações e as greves dos mineiros do carvão, face ao encerramento de 20
minas e a perda de 20 mil empregos. Ou os trabalhadores da fábrica de
pneumáticos “Pirelli” de Burto-on-Trent.
Killip explicou
que, desde princípios do século XIX, no norte de Inglaterra, se desenvolveu
grande parte da industria pesada – as minas de carvão, o aço e os estaleiros –
proporcionando emprego a várias gerações e criando comunidades muito coesas. “O
desmantelamento do mundo industrial europeu, durante a segunda metade do século
XX, deixou estas pequenas sociedades à mercê de grandes mudanças estruturais.
Este período de desindustrialização, o desemprego crescente e a condição
precária de grande parte da classe operária, revelada com crueza na década dos
80, são os eixos do meu trabalho”.
A exposição poderá
ser vista até ao próximo dia 24 de fevereiro.
* Armando G. Tejeda é jornalista.
Tradução: António José André
Publicado em: http://www.jornada.unam.mx/ 2013/12/29/cultura/a02n1cul
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